Se 2024 não foi um bom ano para seleção brasileira masculina de voleibol, 2004 foi um ano de glória! O Brasil conquistou a medalha de ouro em Atenas, templo dos Jogos Olímpicos. Mais do que a merecida vitória, os brasileiros encantaram o mundo, com um novo jeito de jogar a modalidade. Com criatividade, essa seleção masculina do Brasil foi a que mais expressou em quadra a cultura do seu povo. Os brasileiros deram aula, sendo devidamente recompensados com o lugar mais alto do pódio. Confira abaixo, como foi a história da conquista do segundo ouro olímpico do Brasil no voleibol masculino.

INÍCIO
A jornada da conquista do ouro olímpico pelo voleibol masculino em Atenas, começa logo após o fim dos Jogos de Sydney 2000. Em uma decisão arrojada, o então presidente da Confederação Brasileira de Voleibol, Ary Graça, fez uma troca no comando técnico da seleção masculina com a feminina. Depois de um excelente trabalho com as mulheres, Bernardinho foi promovido, sendo alçado ao posto de treinador do que viria a ser, a melhor seleção brasileira de todos os tempos.
CICLO OLÍMPICO
O trabalho de Bernardinho com os homens, deu resultado logo de cara, com a conquista da Liga Mundial 2001 na Polônia. Entretanto, os planos de Bernardinho eram mais ambiciosos. Ninguém conseguiria imaginar naquele momento, a quantidade de títulos que a seleção brasileira masculina viria ganhar, nem o tamanho da hegemonia que iria se impor aos adversários. Porém, a conquista do inédito título do Mundial em 2002 na Argentina, mostrou que aquela seleção brasileira masculina de Bernardinho não estava para brincadeira.
MELHOR ELENCO DA HISTÓRIA
Para colocar em prática o seu plano de jogo pelas mãos de Ricardinho, o técnico Bernardinho contou com um dos melhores elencos da história. Mesclando juventude e experiência, com nomes como Maurício e Giovane, campeões olímpicos em Barcelona, Bernardinho e companhia mudaram o jeito de jogar voleibol. Desafiando os padrões da modalidade, com jogadores mais baixos em comparação com o nível internacional, Bernardinho trouxe a experiência do vôlei feminino para o naipe masculino, batendo de frente com a lógica da modalidade.
ESCONDENDO O JOGO
Um dado curioso sobre o elenco brasileiro naquele momento, é que Bernardinho escondeu a formação titular para os Jogos de Atenas o quanto pode. Com várias opções para todas posições, ele se deu ao luxo de ganhar vários campeonatos daquele ciclo olímpico, com jogadores que estavam no banco em Atenas. Na verdade, esse era um dos diferenciais daquele time. Haviam doze titulares. A estratégia era tão peculiar que serve de referência até hoje para o voleibol de alto nível. Não se ganha nada na modalidade com apenas um grande jogador, é preciso ter jogo coletivo.
CONTUSÕES E CORTES
Mas nem tudo foram flores na caminhada do ouro do voleibol masculino em Atenas. Entre os percalços, a suspensão de Giba por doping de maconha e a contusão de Nalbert às vésperas dos Jogos Olímpicos. O capitão conseguiu uma recuperação milagrosa! Para completar, Bernardinho soube administrar muito bem o corte do central Henrique. Campeão mundial em 2002 na Argentina, ele ficou de fora das Olimpíadas de Atenas, sendo lembrando na comemoração da conquista do ouro no pódio olímpico.
INOVAÇÃO, CRIATIVIDADE E ESTILO
Com um elenco desse e Bernardinho no banco como técnico, o Brasil deitou e rolou em Atenas. Fez o que quis. Para começo de conversa, foi nesta Olimpíada que Bernardinho atingiu o ápice do seu estilo de jogo. Com Ricardinho na mão, Bernardinho conseguiu implantar plenamente seu sistema tático, com a cabeça pensante do levantador. Seus levantamentos tinham uma velocidade absurda. A bola praticamente não tinha parábola. Para se ter uma ideia, o que assistimos hoje no voleibol internacional no quesito levantamento, possui como referência o trabalho de Bernardinho pelas mãos de Ricardinho. Além disso, aquela seleção brasileira tinha um volume de jogo incomum para o voleibol masculino. Pareciam japoneses no fundo de quadra. O líbero Serginho varria o fundo de quadra como nenhum outro jogador de voleibol da história. Para completar, a marca daquele time, copiada por todas outras seleções depois, era o ataque pela bola pipe. Essa jogada consagrou o ponteiro Giba como melhor jogador de Atenas. A hegemonia criada por essa jogada foi tão grande, que Giba dominou as premiações individuais por três anos ininterruptos. Isso sem contar, o seu desempenho nos outros fundamentos. Giba neles!

CAMPANHA OLÍMPICA
O Brasil só não foi campeão olímpico invicto porque não quis! Os brasileiros se deram ao luxo de escolher adversários, perdendo na 1ª fase para os Estados Unidos, por 3×1. O Brasil poupou alguns jogadores nesta partida. Quem não gostou nada desta história foi o técnico dos Estados Unidos, Doug Beal. Ele chegou a dizer na época, ainda durante os Jogos de Atenas, que o Brasil estava se vingando por uma situação parecida que aconteceu entre as duas seleções, nos Jogos de Los Angeles em 1984. A polêmica foi tão grande, que o COI introduziu o sorteio nas Olimpíadas seguintes, para definir os confrontos de quartas de final entre os segundos e terceiros colocados da 1ª fase. No link abaixo, você acessa os momentos decisivos da semifinal entre Brasil e Estados Unidos.
Outro fato curioso da campanha olímpica do Brasil em Atenas, foi que além dos Estados Unidos, os brasileiros enfrentaram a Itália por duas vezes, na 1ª fase e na grande decisão do ouro. Entretanto, neste caso, o Brasil ganhou os dois jogos. Mas para quem pensa que o duelo da 1ª fase foi mais fácil, deve se atentar para o recorde nunca igualado dessa partida em Jogos Olímpicos. Com a partida decidida no tie-break, as duas seleções fizeram um teste para cardíaco no 5º set do confronto. O Brasil venceu o jogo por 3×2, com o placar marcando 33/31 no tie-break! Um recorde imbatível até os dias de hoje! Neste link abaixo, você acessa o jogo.
Não menos difícil, a decisão do ouro foi controlada pelo Brasil do começo ao fim. Apesar de perder uma parcial, os brasileiros mostraram para o mundo, quem dava às cartas naquele momento no voleibol masculino. Vitória por 3×1. Ouro para o Brasil, prata para Itália, bronze para Rússia. No link abaixo, você acessa a final olímpica completa de 2004 entre Brasil e Itália.
