Na década de 2000, o Brasil foi a força dominante no voleibol. Entre os homens, o Brasil foi tricampeão mundial, campeão olímpico em Atenas, medalha de prata em Pequim, bicampeão da Copa do Mundo, além de ter vencido a Liga Mundial no período por oito vezes. Já entre as mulheres, em cenário de mais equilíbrio, após o fracasso em Atenas, o Brasil conquistou o primeiro ouro olímpico do vôlei feminino em 2008, abrindo caminho para o bicampeonato na década seguinte em Londres. Além disso, venceu o Grand Prix por cinco vezes na década de 2000, além de ser vice-campeão mundial em 2006 e 2010. Tal feito, não teria acontecido, não fosse a liderança técnica de dois dos melhores treinadores do mundo na modalidade, Bernardinho e Zé Roberto.
APOSTA
Depois do 6º lugar nos Jogos de Sydney 2000 no voleibol masculino, a CBV sob o comando de Ary Graça, tomou uma das decisões mais arrojadas da história da entidade. Em uma aposta certeira, Ary Graça fez uma troca arriscada de comando no naipe masculino. Simplesmente, Ary Graça promoveu Bernardinho após o sucesso do treinador com o voleibol feminino. Com duas conquistas inéditas de bronze no currículo com as mulheres, além de um excelente trabalho que fez frente a Cuba, Bernardinho assumiu o comando do masculino após os Jogos de Sydney. Um risco, que tanto Ary Graça, como Bernardinho correram, mas que levou o voleibol brasileiro ao topo da modalidade durante mais de uma década.
MATERIAL HUMANO
A aposta certeira de Ary Graça abriu o caminho para uma série de mudanças na modalidade interna e externamente. Entretanto, sem material humano, não seria possível para Bernardinho ou Zé Roberto realizarem um trabalho de excelência. Mas, seja pela conjunção dos astros ou não, durante a década de 2000, além de ganhar quase tudo no adulto, o Brasil dominou a base do esporte, com uma série de títulos nas categorias inferiores. Várias estrelas do Brasil na modalidade foram reveladas na gestão de Ary Graça na CBV. Um trabalho que não dá para esconder, sendo referência internacional até os dias de hoje.
TRANSIÇÃO
Mas nem tudo foi fruto somente de trabalho administrativo. A chegada de Bernardinho na seleção masculina mudou a forma de jogar voleibol no naipe masculino. Bernardinho imprimiu uma velocidade jamais vista na modalidade, graças ao trabalho incansável do levantador Ricardinho. O Brasil virou referência internacional. Os levantamentos de Ricardinho mal tinham parábola. Além disso, toda a experiência com o feminino, veio com Bernardinho na bagagem. O volume de jogo brasileiro no masculino era algo impensável até aquele momento. Os brasileiros chegaram a ser comparados com os japoneses, tamanho o nível de jogo no fundo de quadra.
TROCA-TROCA
O sucesso da transição de Bernardinho do feminino para o masculino, fez Ary Graça dobrar a aposta. Vendo o Brasil favorito ao ouro nos Jogos de Atenas 2004, Ary Graça chamou para o comando da seleção feminina, o ex-técnico da seleção masculina, José Roberto Guimarães, ouro em Barcelona. Naquele momento, Zé Roberto treinava o time feminino do Osasco e a seleção feminina passava por uma crise interna de relacionamentos com o técnico Marco Aurélio Motta. A chegada de Zé Roberto na seleção feminina foi em boa hora, mas as coisas não deram tão certo em Atenas, como deram quatro anos depois nos Jogos Olímpicos de Pequim.
ADAPTAÇÃO
Ao contrário do que poderiam imaginar, Jose Roberto Guimarães trouxe para seleção feminina uma sensibilidade no trato com as jogadoras. Não que ele fosse grosseiro no masculino, mas sua transição para o feminino foi perfeita. Segundo consta, a comissão técnica de Zé Roberto acompanha até mesmo o ciclo menstrual das jogadoras para avaliar o desempenho e o rendimento delas dentro de quadra. Além disso, seu maior desafio era promover uma adaptação no sistema tático da seleção feminina. O Brasil jogava em 5×1, mas nossas opostas eram muita vezes passadoras, até mesmo as canhotas, como por exemplo, Leila. Com a chegada de Zé Roberto, o Brasil assumiu o sistema tático em 5×1 plenamente, assim como no masculino, graças ao talento de jogadoras como Mari e Sheilla.
SUCESSO INTERNACIONAL
O domínio brasileiro no voleibol nos anos 2000, ainda gerou vários dividendos para todos os envolvidos na empreitada. Entre eles, o principal responsável pela aposta no troca-troca de técnicos, o então presidente da CBV, Ary Graça. Nada mais, nada menos, ele chegou ao comando da Federação Internacional de Voleibol. Para se ter uma ideia, ele derrotou na eleição, ninguém menos que o norte-americano Doug Beal, outro nome histórico da modalidade. Sua gestão na FIVB parece muito bem avaliada, dado o seu prestígio com o COI – Comitê Olímpico Internacional. Para quem tem medo de apostas de risco, este é um exemplo de que vale a pena correr perigo quando há competência.

