ENTREVISTA COM LIRA RIBAS, A ARTISTA DO VÔLEI

Acervo Pessoal/Flávio Charchar

Filha do músico Markus Ribas e da ex-jogadora de vôlei Fátima, Lira Ribas herdou da família o talento natural para as artes e o esporte. Na adolescência iniciou a prática do voleibol. Nos anos 90, foi campeã mundial infanto-juvenil com a seleção brasileira, ao lado de nomes como Érika Coimbra, Fofinha e Fernandinha. Foi o primeiro título mundial do Brasil na categoria. Lira ainda foi eleita melhor bloqueadora da competição. No adulto, já como profissional, atuou ao lado de Fofão, Pirv, entre outras, defendendo a camisa do Minas. Teve passagens por vários times no Brasil. Na Europa, jogou pelo Panathinaikos da Grécia, em 2006. No retorno ao país, se apaixonou pelo teatro e mudou de carreira. Virou atriz. Foi premiada no Festival de Brasília, em 2016, por sua atuação em “Estado Itinerante”. O curta ainda foi premiado como o melhor da categoria no festival. Lira fundou o bloco de Carnaval dos artistas de Belo Horizonte, o Corte Devassa. Ela também colabora com outro bloco, o Magnólia, inspirado no Carnaval de New Orleans. Atualmente, ela reside em São Paulo e se divide entre a capital paulista e BH. Sua última apresentação no teatro ocorreu no FAN – Festival Arte Negra de Belo Horizonte, em 2019, com a peça Orange Lady.

Seu pai Markus Ribas foi um grande artista da cena musical brasileira. Sua mãe Fátima, atleta de vôlei. Como foi na sua adolescência a influência de seus pais na direção de sua carreira profissional?

Então, meus pais eles sempre foram muito abertos e tranquilos em relação as nossas escolhas, a minha e da minha irmã. Nunca teve nenhuma pressão sobre o que a gente deveria escolher como profissão. Mas exatamente pela forma que a gente era criada, educada, em casa, a gente vivia a música, vivia as artes, vivia o esporte… Desde novinha, meu pai, apesar de ser artista profissional, ele também era muito envolvido com o esporte, então desde muito criança, tanto eu, quanto minha irmã, a gente fazia natação, vôlei, dança, éramos muito envolvidas com música. Então na minha adolescência, pelo fato de ter começado a jogar vôlei com 9 anos, eu já estava muito encaminhada dentro dessa profissionalização do esporte. Claro, sempre envolvida com artes, mas como hobby, de interesse pessoal mais do que profissional.

Como atleta de vôlei, você foi campeã mundial na base com o Brasil nos anos 90. Quais recordações você tem desses momentos? Que jogadoras estiveram com você na conquista desse título?

Esse título que a gente teve na década de 90, foi muito importante, porque o Brasil nunca tinha sido campeão da categoria de base infanto-juvenil. Então foi a primeira vez que a gente levou esse título. Era o primeiro grande campeonato internacional que eu participava, isso foi muito importante para minha formação tanto quanto atleta, quanto pessoa, até na minha questão profissional, isso me acompanha até hoje, na forma como eu levo meu trabalho nas artes, sendo bem influenciado pela forma que eu também aprendi no esporte. Foi um momento muito especial, pelo fato também de viajar, foi na Tailândia, estávamos com 16 anos, todo mundo novinha, era muito interessante. Primeiro eram 15 mulheres, depois passou para 12, para gente viajar, mas foi mais de um ano de preparação para estar naquele campeonato . Então, era muito especial esse momento. Tudo muito novo, porque éramos muito jovens. Nós fomos campeãs, eu levei o prêmio de melhor bloqueadora do campeonato. Eu lembro quem estava comigo: Érika Coimbra, Lirinha no levantamento, Luciana Adorno, Fofinha, Andressa, Kelly Fraga, Dani Vieira, Fernandinha, Kátia, Thaís, nossa eu vou acabar esquecendo de alguém… Enfim, um grupo muito especial que me trouxe grandes referências, muito alegrias, muitas lembranças que eu trago até hoje.

Como jogadora você atuou como oposta e central. Na sua opinião você era melhor em qual posição? Você tinha preferência? Por que?

Eu na verdade joguei como ponteira e central. Oposta era mesmo como um coringa quando precisava entrar. Sem dúvida alguma, preferia jogar como central. Sempre gostei muito de bloquear, era a função que eu mais gostava! Acho que a central da equipe tem uma importância grande, com essa coisa do bloqueio, essa inteligência, essa previsão da levantadora, sempre gostei muito, muito, muito! Tanto é que tentaram me colocar várias vezes de ponteira definitiva, mas eu sempre reclamava, sempre queria jogar de central. Eu tinha muita força no braço, saltava muito, então muitas vezes queriam me colocar de ponteira, mas gostar mesmo, eu gostava de ser meio.

Na passagem para a carreira adulta você fez parte da equipe do MRV/Minas que chegou pela primeira vez a final da Superliga, na temporada 99/00. Como foi fazer parte dessa história? O que faltou para a conquista do título?

Você sabe que a minha memória me atrapalha. Tem horas que eu esqueço muita coisa assim do vôlei que eu tenho que conferir. Eu não lembro se fomos para final, eu acho que nós fomos para a semifinal. Não lembro. Nossa, eu não lembro. Não vou saber te responder. Na verdade eu não estou lembrando que a gente foi para a final. Esse time era do William?

Eu acho que era do William na época que jogava no Pio XII. A final foi contra o Rexona. Acho que você fez parte dessa equipe que foi vice-campeã. O ginásio do Minas estava em reforma, você lembra?

Pois é, eu fiz parte sim da equipe com o William, mas não vou saber responder. Porque esses times do MRV era times bons de fato, mas não vou saber responder porque não ganhou. Não sei. Eu lembro da época, lembro do Pio XII, lembro do time, lembro de tudo, mas eu não to lembrando sobre isso assim, sobre porque nós não ganhamos. Tem muito tempo! Minha vida já mudou tanto depois daquilo, que eu fico tentando lembrar as coisas que aconteceram em relação ao vôlei, assim esses detalhes, mas não vou saber te responder.

Naquela época ao seu lado estiveram atletas de renome nacional e internacional como Fofão, Pirv, Ângela Moraes, entre outras. Como foi atuar junto com elas?

Eu aprendi muito com elas! Muito! Eram grandes jogadoras, eu era fãs de todas, me dava super bem com todas elas, tentava aproveitar ao máximo da experiência delas para me aperfeiçoar. A Pirv era uma gracinha de pessoa, muito habilidosa, de uma inteligência enorme, então era muito bom de vê-la jogando. A Ângela Moraes era incrível! Eu me inspirava muito nela porque ela era uma meio de rede não tão alta, mas saltava muito, incrível! Uma das atletas de meio que mais eu vi jogar. Muito boa! E a Fofão é indescritível! Uma das maiores jogadoras do Brasil! Inteligentíssima, super generosa, de uma humildade incrível, ela foi a maior jogadora do Brasil, pelo fato de ser completa. Tanto pelas questões de jogo, como atleta, de habilidade, quanto de pessoa, de uma humilde incrível, ajudava muito nós que éramos mais novas. Era realmente uma equipe muito forte!

Fale um pouco sobre sua passagem pelo vôlei europeu na Grécia, em 2006.

O time da Grécia, na verdade, eu estava indo para a Espanha, jogar em Burgos. Teve um problema com um empresário que eu estava na época que, não foi bacana comigo e nem com o time. Deu um problema e acabou que eu fiquei sem poder ir. Eu tinha tido outros convites, mas por ter fechado com o Burgos, acabou que eu deixei para lá. Quando eu tive que voltar, tinha o time do Panathinaikos para eu ir. Foi uma experiência também maravilhosa morar na Grécia. Fui muito bem recebida. Acho que a Grécia, dentro dos times europeus, não é dos times mais fortes, mas tinha um campeonato muito bom, muito interessante de participar, com muitas estrangeiras, fiz grandes amizades. O país foi incrível, fui super bem recebida, gostei muito do país, das pessoas, da comida, da cultura, mas foi o último time que eu joguei. Depois dali, eu tive a certeza que eu estava querendo parar de jogar mesmo. E logo após, eu comecei a fazer teatro, quando voltei para o Brasil de férias, e não voltei mais a jogar. Porém, foi uma passagem muito importante para mim, em ter feito essa viagem.

Acervo Pessoal/Flávio Charchar

Em que momento você decidiu seguir o caminho da arte?

Eu sempre tive esse envolvimento com artes, pelo fato da minha família ter muitos artistas, então, desde criança eu estava envolvida, mas de uma forma muito pessoal. Em casa, tocava violão no meio da galera do vôlei, mas quando eu voltei da Grécia, eu tive que fazer uma cirurgia, tinha que ficar seis meses sem treinar. Nesse período, eu fui fazer um curso de teatro. Me apaixonei completamente. Tive certeza de ter encontrado algo que eu queria para o resto da minha vida. Conversei com meu empresário na época, que era outro, conversei com a minha família e decidi parar de jogar, entrar para artes, em 2007. De lá para cá, eu não parei mais.

Fale um pouco sobre o seu período de formação como atriz e a participação no Festival Cenas Curtas do Galpão Cine Horto.

Eu comecei a fazer um curso de teatro na PUC, que era o curso de teatro PUC Minas, um curso técnico, eu fiz três anos. Depois, eu entrei para o Palácio das Artes, no curso profissional, e na UFMG no curso de bacharelado das Artes Cênicas, me formando nos dois. Foi bem importante esses cursos, na verdade, criaram uma amplitude para dentro da minha pesquisa nas artes cênicas, tive grandes mestres, professores, fiz algumas oficinas, mas esses três cursos foram o que me embasaram como artista. Sobre a minha participação no Galpão, é uma escola também. O Festival Cenas Curtas do Galpão é um lugar de pesquisa muito importante para o artista, porque se experimenta muita coisa, muitos espetáculos surgiram do Cenas Curtas, muitos grupos surgiram do Cenas Curtas, por causa desse lugar que ele tem, essa abertura para a pesquisa. Sempre fui muito feliz nas minhas participações. Desde que mudei para São Paulo, eu não tenho participado, por questões de tempo, mas é incrível, é um festival que eu gosto muito, é muito legal.

Você dirigiu seu primeiro espetáculo em 2012, além de encenar. Como foi esse processo?

Pois é, eu dirigi o “Peça que nos perdoe”, foi incrível assim também, um dos processos que eu levo para a minha vida, enquanto aprendizado de processo, porque eu acredito muito nos processos de construção teatral. São neles que eu amadureço, que eu cresço. As apresentações artísticas sempre são maravilhosas, mas o processo de criação que é o lugar da artesania. E isso, por eu ser do esporte, acreditar no treinamento, eu acredito muito nos ensaios. Então esse processo foi incrível, nós ficamos muito tempo pesquisando, eu tive um grande parceiro que é o Fernando Barcelos, que esteve comigo em todo o momento, tive outros ótimos parceiros também. Depois entraram outras pessoas, sempre muito positivo. Sempre foi muito positiva a forma como eu trabalhei essa primeira direção. Foi nesse momento que eu descobri que, tanto a atuação, quanto a direção, para mim andam no mesmo lugar da paixão e da vontade. Também tem essa questão que você falou de encenar e dirigir, que é um processo que eu gosto muito, acho que por ter sido jogadora de vôlei de meio de rede, que você tem de estar com esse olhar atento ao que acontece nas suas lateralidades, com olhar mais panorâmico, me fez gostar muito de atuar e dirigir ao mesmo tempo.

Na sequência, você emendou vários trabalhos no teatro e cinema. Poderia falar sobre algum trabalho com caráter especial?

Então, na verdade, todas as peças que fiz no teatro, eu tenho um grande respeito pelo trabalho feito. “Rio Adentro”, “Between”, “Two Ladies”, são espetáculos que eu considero assim de muito esforço, sempre muita seriedade, em uma pesquisa muito bacana. Cenas Curtas também, “Elas também usam black-tie”, “#Mulhernotamil”, sempre muito importante, até em parceria com outros grupos, com o Dente de Leão, com o Espanca. Mas um trabalho também que eu levanto de força assim, no cinema, foi “Estado Itinerante” da Ana Carolina Soares, que a gente ganhou o prêmio de Melhor Curta do Ano pela Ancine, pelo Festival de Brasília. Eu ganhei também como Melhor Atriz, pela importância do trabalho, falando sobre a violência doméstica, de uma forma tão verdadeira. Uma parceria com a Ana e com a Cristal também que faz uma cena linda comigo. Tive participações em outros filmes, bem importantes assim para mim, mas o “Estado Itinerante” acho que ele trouxe essa força de compreender o processo cinematográfico e as minhas possibilidades nessa outra linguagem.

Acervo Pessoal/Márcio Cipriano

Como foi receber o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Brasília pelo curta Estado Itinerante?

Eu fiquei muito feliz. Confesso que eu não esperava, pela potência do festival, eu começando meu primeiro filme no festival, eu confesso que eu não esperava mesmo! Tinha outras pessoas participando e concorrendo, mas eu fiquei muito, muito, feliz! Eu gostei do trabalho que eu fiz, gostei do curta… Eu acho assim que prêmios… Eu já ganhei prêmios no esporte, outros no teatro, cinema… Eu sempre acho que o prêmio é a premiação do momento. Ele não é hipervalorizando o artista em detrimento de outros ou outras que estejam concorrendo. Você não é melhor que alguém que está concorrendo! Naquele momento, o júri selecionou o seu trabalho como representante para aquele prêmio. Tenho total consciência disso. No entanto, sempre é muito bom ter o nosso trabalho valorizado, independente do festival e de quem quer que seja. Então, eu fiquei muito feliz, isso me abriu portas para outros filmes, outros trabalhos no cinema, mas é isso, muito feliz pela premiação.

Todos os anos, no Carnaval de Belo Horizonte, você participa do Bloco Magnólia. Fale um pouco sobre essa sua colaboração.

O Bloco Magnólia surgiu no bairro Caiçara, um grande amigo meu, o Flavinho, estava construindo esse bloco e me chamou para compartilhar com ele. Eu entrei fazendo a porta-estandarte e a direção artística. Eu penso no figurino, na parte estética, plástica do grupo. E é maravilhoso! É um grupo inspirado no Carnaval de New Orleans, uma das cidades mais negras dos Estados Unidos e nós trabalhamos com essa cultura dando uma brasileirada obviamente. É muito bom trabalhar com eles, a produção, os músicos, o corpo de baile… O Magnólia é muito legal porque não é um bloco apenas para ser escutado, ele é para ser visto, dançado, curtido de todas as formas. É um bloco cênico também. Acho que talvez por ser do teatro, eu gosto de levar isso um pouco para os trabalhos que eu faço. Ele sai toda a terça-feira de Carnaval, mas durante o ano, tem um processo de apresentações e festivais, que o Magnólia participa. Eu participo também do Corte Devassa que é um outro bloco que eu criei, que também tem essa pegada cênica. Eu sou muito envolvida com o Carnaval porque isso faz parte da minha família também. Eu sou de Pirapora, minha família é de Pirapora, na cidade tem um Carnaval muito importante, um Carnaval de Rua.

Pra encerrar Lira, quais são as suas expectativas para 2020?

Então, eu estou morando em São Paulo agora, mas eu divido São Paulo com BH, trabalho tanto lá quanto aqui. Como eu disse, para o começo do ano eu estou na produção do Carnaval, por causa dos dois blocos, tanto o Magnólia, quanto a Corte Devassa, que são dois blocos que eu produzo e organizo, há oito anos. Quero me estabelecer com essas conexões tanto em São Paulo quanto aqui. Tentar levar o meu último trabalho que eu fiz para o FAN – Festival de Arte Negra para São Paulo. Eu acho que o trabalho do artista ele sempre, ainda mais o autônomo, a gente sempre acaba um trabalho, começa outro, acaba um trabalho, busca outro, eu acho que é esse constante. Eu acho que para 2020 eu quero me conectar mais com São Paulo, conseguir levar mais os meus trabalhos para apresentar mais, eu tive muito esses dois últimos anos conectados com esses processos, com algumas cenas curtas, mas eu acho que agora eu estou mais a vontade para levar algumas coisas para São Paulo. Acho que 2020 será o ano do trabalho. A princípio no começo do ano envolvida com o Carnaval e depois colocar os projetos de gaveta para fora.

Acervo Pessoal

ENTREVISTA COM PELÉ DO VÔLEI, ÍDOLO DO MINAS

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Acervo pessoal/Pelé do Vôlei

José Francisco Filho, o Pelé do Vôlei, é um dos ícones da modalidade no Brasil. Atuando pelo Minas, nos anos de 1980, conquistou os principais títulos defendendo o clube, como a Liga Nacional e o Sul-Americano. Entrou para a história do esporte no país, ao quebrar a hegemonia dos times do eixo Rio-São Paulo, sendo o melhor atacante da Liga Nacional por 7 vezes. Com a camisa da seleção brasileira, foi tetracampeão sul-americano, bronze na Copa do Mundo, em 1981, e nos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis, em 1987. Ele ainda foi eleito a Revelação da Copa do Mundo de 1985. Pelé também seguiu carreira internacional pelos clubes. Ele disputou o Campeonato Italiano, principal liga da época, ao lado do campeão olímpico Carlão e do atual técnico da seleção brasileira masculina, Renan Dal Zotto. Atualmente, Pelé se dedica a política e mantém uma escolinha de vôlei em Belo Horizonte. Ele cumpriu mandato como vereador no período entre 2012/2016 e recentemente foi nomeado Secretário de Esportes de Minas Gerais do governo Zema.

Como foi sua trajetória até a carreira profissional de atleta do vôlei?
Eu vim de uma família muito simples, perdi meu pai aos cinco anos de idade e ele deixou dez filhos. Minha mãe não teve como criar os filhos. Então, eu fui para a Febem. Fiquei na Febem dos cinco aos doze. Saindo da Febem, comecei a trabalhar como trocador de ônibus. Aos dezesseis anos, tive minha oportunidade no esporte. Aonde tinha muita dificuldade de transporte. Comecei no Guaíra, Olympico, Minas Tênis Clube, onde eu fui tricampeão brasileiro e bicampeão sul-americano.

E sua passagem pelo Atlético Mineiro? Você jogou com o José Roberto Guimarães?
No Atlético, eu joguei de 1980 a 1983. Era eu, Zé Roberto, Hélder, Badalhoca. Era um time que chegava sempre nas finais, entre os melhores, dos campeonatos brasileiros.

Entre títulos e medalhas, qual foi o momento mais marcante que você viveu como jogador?
Um dos títulos mais difíceis, mais marcantes, foi em 1984, no Maracanãzinho, com 12 mil pessoas, onde perdíamos por 2×0, conseguimos virar para 3×2, em um dos jogos mais longos da história, com 4h15min de duração. Naquela época, tinha vantagem, então o jogo demorava muito.

E contra quem foi?
Contra o Bradesco. E o Bradesco era a seleção brasileira. Bernard, Renan, Montanaro e cia.

Em qual posição você preferia jogar? Ponta ou oposto? Em qual você acredita que rendia mais?
Oposto. E na posição de oposto, hoje em dia, eu vejo que rendia mais porque, eu ficava livre para atacar do fundo. Era a minha melhor bola de ataque, pela segunda linha.

Pelo meio fundo?
Isso, a famosa pipe.

Como foi sua experiência no vôlei italiano de clubes?
Foi muito boa! Eu pude levar minha família, minha esposa, Yolanda… Tecnicamente também foi muito bom. Era um dos campeonatos mais fortes do mundo, então, foi uma experiência excelente!

Como era a sua relação com o técnico coreano Sohn? Qual a influência dele no tricampeonato brasileiro do Minas (1984, 1985, 1986)?
O Sohn tecnicamente não acrescentou muito para gente, mas psicologicamente, ele foi um gigante. Sem ele, realmente, nós não conseguiríamos conquistar esses títulos. Então, foi um técnico muito importante para esse tricampeonato e o bicampeonato sul-americano.

Em que medida a metodologia e a filosofia do trabalho do Sohn revolucionou a preparação física no Minas? Ele promoveu a ginástica artística, algo diferente para época…
A revolução é o seguinte: nós estávamos acostumados a treinar duas horas por dia, então, com a chegada dele, nós treinávamos quatro horas por dia. E fazia também… Ele inventou a ginástica olímpica e realmente ela foi muito boa porque, dava muita flexibilidade e força. Então, ele foi um dos fundadores dessa invenção da ginástica olímpica. E nossa equipe adaptou muito bem.

E você chegou a saltar 1m do chão?
Sim. Minha envergadura é de 2,50, eu alcançava 3,50m de altura. Então, além de saltar muito, eu tinha muita velocidade no ataque.

Como foi o período preparatório para os Jogos Olímpicos de Seul em 1988?
Os Jogos de Seul, eu era praticamente titular, Bebeto de Freitas que era o treinador, então, uns quinze, vinte dias antes, eu tive uma torção no tornozelo e não pude participar. Essa foi uma das coisas que eu não consegui: ir em uma Olimpíada.

Mas também não conseguimos a medalha? Perdeu o bronze para Argentina?
Isso, ficou em 4º lugar.

E como foi a transferência conturbada do Minas?
Depois do tricampeonato, a Sadia me fez uma proposta muito boa. E eu com a minha esposa, achávamos que valeria a pena ir para a Sadia. Os dirigentes do Minas não acreditavam que eu iria sair. Cheguei para eles, disse que tinha uma proposta da Sadia. Se vocês não cobrirem eu disse que iria sair. Eles não acreditaram. Eles ficaram sabendo no outro dia que eu tinha acertado com a Sadia. Foram surpreendidos. Porque eu já tinha ouvido o Minas e eles não acreditaram que eu tinha aquela proposta. A proposta da Sadia era de 50% a mais. O Minas não conseguiu cobrir a proposta.

Atualmente, qual atleta você apontaria como o melhor jogador do mundo no vôlei masculino?
Na minha opinião, o maior jogador do mundo é o León, cubano naturalizado polonês. Ele realmente é um fenômeno. Com 14, 15 anos ele já era titular da seleção cubana. Ele é um jogador completo de 2,02m de altura, passa bem, ataca bem, bloqueia, então, é um fenômeno!

Fale um pouco sobre a Escola de Vôlei Pelé.
Eu depois que voltei da Itália eu abri a Escola de Vôlei Pelé. Já fazem 25, 26 anos. Nós ajudamos na formação cidadã das pessoas, aqueles que se destacam, a gente automaticamente encaminha para os clubes de competições. Hoje tem o Lucarelli, tem o Otávio, tem o Maurício Borges, todos eu fui técnico deles no Minas Tênis Clube, nas categorias de base. Então esse trabalho que eu venho fazendo é muito importante, primeiro, na socialização. Aqueles que se destacam nós encaminhamos para as equipes de competição.

E como foi sua experiência como técnico?
Foi excelente. Eu fui assistente técnico da equipe feminina do Minas, masculina durante quatro anos, e durante doze anos, das categorias de base juvenil e infanto-juvenil do Minas. Então uma experiência muito grande, além de ser também, técnico das seleções mineiras de 2007 a 2011.

Você pode dizer quem passou por você nesse período?
Lucarelli, Otávio, Flávio, todos eles passaram na peneirada comigo. Trabalhei com eles durante seis, sete anos. Eles chegaram no adulto do Minas, alguns ficaram por um tempo e depois saíram. Então, esses três jogadores, todos começaram comigo.

Na política, você já foi vereador por Belo Horizonte. Quais os projetos aprovados na Câmara, no seu mandato, você indica como os mais importantes?
Eu tenho seis projetos, durante quatro anos, aprovados. Um dos principais é a entrada franca em todo evento, estádio de futebol, evento esportivo, qualquer menor de doze anos tem a entrada franca acompanhado do pai ou de um responsável. Esse foi o maior projeto. Durante os quatro anos, foram seis projetos. É muito difícil aprovar qualquer proposta na Câmara. E nós não podemos fazer projetos que gerem despesa para a Prefeitura. Então, nós temos que estudar e ver alternativas para os projetos terem ganhos para a população.

Recentemente, você foi nomeado Secretário de Esportes de Minas Gerais do governo Zema. Quais são os seus planos?
O plano é levar a oportunidade através do esporte para aquelas pessoas mais carentes. Então, uma das missões minhas na Secretaria é levar o acesso ao esporte ao Vale do Jequitinhonha, ao Vale do Mucuri, aonde essas pessoas simples não tem a oportunidade. Eu sei, sou prova viva, que é a oportunidade, que falta para aquelas pessoas mais carentes. Não quer dizer que elas vão ser um Pelé do Vôlei, um Neymar, um Oscar do basquete, mas pelo menos, serão cidadãs.

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Acervo pessoal/Pelé do Vôlei