A seleção brasileira feminina de vôlei terminou sua participação no Campeonato Mundial 2018 com a pior classificação dos últimos dezesseis anos. Também foi a primeira vez nos últimos dezesseis anos que as brasileiras ficaram de fora das semifinais. Se olharmos o resultado final com atenção veremos que a posição final é uma das piores desde que o vôlei feminino se inseriu no cenário internacional. Em 2002, data da última má campanha brasileira em Mundiais, o Brasil foi representado por um time de jovens, quase juvenis, devido ao atrito entre o técnico Marco Aurélio Motta e jogadoras mais experientes.
Levando em conta essa informação, a participação brasileira em Mundiais é a pior desde 1990, há 28 anos atrás, quando o Brasil lutava para superar o domínio peruano na América do Sul. Diversos fatores explicam o resultado ruim do Brasil no Mundial 2018. A começar pelo fraco processo de renovação da seleção feminina, a falta de apoio à base, algo que não ocorria tempos atrás, a queda na estatura média das principais atletas, em comparação com outras jogadoras do passado, o excesso de lesões, a ausência de padrão tático definido, em virtude das contusões e o tempo escasso para recuperação plena das atletas.
Não poderia deixar de ser citado também o abalo emocional da seleção brasileira, algo típico do vôlei feminino. Em mais de uma vez na competição, as brasileiras tiveram vantagens consideráveis no placar e não conseguiram confirmar os resultados. Foi assim contra Alemanha, Japão e Holanda. Até mesmo contra adversários tecnicamente inferiores, como o México, o Brasil enfrentou uma incrível resistência que ao final fez falta na pontuação, na fracassada tentativa de avançar da 2ª para a 3ª fase.
O multicampeão e experiente técnico José Roberto Guimarães foi extremamente criticado pela torcida por não apresentar soluções para a seleção sair dessas situações. A principal queixa foi a utilização de atletas sem estar em sua melhor forma física, a falta de opções para mudanças e a ausência de engajamento na renovação da seleção brasileira. Não é de se estranhar o pedido de sua cabeça por parte da torcida, com a sugestão de troca por Bernardinho. Algo descartado pela CBV, que confirmou o técnico até os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020.
Sobre a carência de talentos para a renovação na base, isso parece mais suposição e especulação do que, algo concreto de fato. Jogadoras com potencial, como a jovem ponteira Júlia Bergmann, de 1,90m de altura, estão indo embora do país simplesmente por falta de espaço. Outras de biotipo físico adequado para o voleibol, como a central Jéssica Lima, de 2,02m de altura, não são trabalhadas e lapidadas para o voleibol de alto nível. Não dá para compreender qual a dificuldade do Brasil em utilizar suas revelações, na passagem das categorias de base para a carreira profissional, como outras potências do esporte, como a China.
CENÁRIO INTERNACIONAL
Com o Brasil de fora das principais seleções do Mundial, é bom analisar o cenário internacional. Das quatro seleções semifinalistas dos Jogos Olímpicos do Rio, três terminaram entre as quatro primeiras do Mundial 2018. São elas: Sérvia, China e Holanda. A exceção foi a seleção italiana. Em um vitorioso processo de renovação, a Itália esteve muito perto de ser bicampeã mundial. Terminou em 2º lugar, perdendo a final para a Sérvia.
A única seleção semifinalista da Rio 2016, ausente entre as quatro primeiras colocadas do Mundial 2018, foi os Estados Unidos. Talvez, depois do Brasil, as americanas tenham sido a maior decepção da competição ao lado da Turquia. Ambas foram finalistas da primeira edição da Liga das Nações e não repetiram o bom desempenho no Mundial 2018.
DESTAQUES INDIVIDUAIS
Uma das principais responsáveis pelo título da Sérvia ficou de fora da seleção do campeonato. Afastada de sua seleção desde o fim das Olimpíadas do Rio, a levantadora Maja Ognjenovic teve um retorno triunfal. É inaceitável a sua ausência da seleção do Mundial 2018. Com o seu retorno, a Sérvia ganhou consistência na distribuição e se deu ao luxo de poupar na final, em alguns momentos, a melhor jogadora do mundo, eleita MVP do Mundial, o fenômeno sérvio Boskovic. Ao seu lado, outra ausência na seleção do campeonato, a ponteira Mihajlovic também foi uma das melhores jogadoras da grande final.
Outro destaque do Mundial 2018, a oposta italiana Paola Egonu quebrou uma marca histórica na semifinal contra as chinesas. Ela anotou 45 pontos e recebeu inacreditáveis 88 bolas nesse jogo. Caso sua seleção tivesse vencido o Mundial 2018, com toda certeza seria eleita a melhor jogadora da competição.