No final de maio, o canal no YouTube sobre voleibol, À beira da quadra, recebeu para uma live, o ex-levantador da seleção brasileira, ouro em Barcelona 1992, Talmo, e o ex-treinador, professor da UFMG e coordenador do GEDAM da mesma universidade, Dr. Herbert Ugrinowitsch. Eles debateram sobre o conhecimento científico na modalidade.
Durante o longo papo, o professor da UFMG enfatizou a importância do uso da ciência no esporte de alto rendimento. Para ele, é inconcebível falar de qualquer intervenção profissional no treinamento de voleibol, sem a utilização do conhecimento científico como suporte. Ele citou como exemplo, os primeiros treinos de vôlei no Brasil, no século passado, baseados na intuição, experiência e repetição exaustiva.
Nem mesmo a análise do jogo, friamente, apenas pelos números estatísticos, deixaram de ser abordadas em seus comentários. Segundo Herbert, os números não dão suporte para a melhoria da técnica do atleta. A correção e a evolução nos fundamentos acontecem a partir da forma dada pelos treinadores ao treinamento.
De acordo com ele, antigamente, os treinos de alto rendimento no voleibol eram realizados por partes. Ou seja, um polimento da técnica. Atualmente, com o auxílio da ciência, através de pesquisas e artigos, é possível aumentar a aprendizagem com treinamentos objetivos para cada atleta. Ele cita o exemplo do estabelecimento de metas na correção dos movimentos, como ganhos na evolução dos treinos, com a ajuda dos dados estatísticos.
Para ilustrar o que diz, Herbert aborda a final dos Jogos Olímpicos de Los Angeles em 1984, no naipe masculino, entre Brasil e Estados Unidos. Enquanto os brasileiros treinavam 9 horas por dia à exaustão, os norte-americanos realizavam treinos de 4 horas por dia, no máximo. Após a perda da final olímpica, de forma categórica, por 3×0, para os Estados Unidos, Herbert enxerga no resultado a diferença entre o uso da ciência no voleibol e o formato distinto dos treinamentos das duas seleções naquela época.
Segundo ele, nem todos os treinadores são adeptos da pesquisa para evolução do aprendizado nos treinos. Ele conta que mesmo com o crescimento da utilização da ciência no voleibol, no Brasil, há resistências porque muitos treinadores não gostam de alterar a organização dos seus treinos. Como exemplo, ele cita o fato do Bernardinho não ser da área da Educação Física, mas permitir o trabalho de pesquisa, desde que haja retorno técnico para ele na montagem de sua equipe.
TALMO
O campeão olímpico em Barcelona 92 Talmo, também treinador da modalidade na categoria feminina, diz ser imprescindível unir teoria e prática. Ele foi aluno de Herbert, teve diversas experiências como jogador, como por exemplo, com Brunoro e José Roberto Guimarães. Para ele, não se deve basear o treinamento exclusivamente na cópia de experiências de outros técnicos.
Segundo Talmo, é preciso buscar a necessidade do atleta e o seu bom desempenho. É preciso buscar a ferramenta ideal para melhorar a performance do jogador. Ele conta ter sido muito criticado por isso, por ser considerado uma quebra de paradigma em relação aos outros tipos de treino. Um dos exemplos dessa abordagem de treino, dada por ele, é o histórico da coordenação motora do atleta, como forma de aprendizagem.